segunda-feira, maio 06, 2024

Alvenarias e Sentimentos

Desastre, desespero, descuido, descaso
Tudo desapropriado
Pelo tão próprio temporal
Impróprio
Ele cheio de propriedade
Impõe-se a quem não estava a postos
A quem estava posto em documento
E ele sem nem deixar lenços
Decompõe em água
Alvenarias e sentimentos
 
Diz seu nome, o atual estado
Rio Grande, como pode um rio ilhado?
Cercado de... as cercas se arrebentaram
As barragens cederam
As ruas inundaram
Pros telhados, as pessoas correram
E, do alto, não se enxergavam
Geralmente, é assim
De cima, não vemos pessoas
Não encontramos olhares
Só que dessa vez, telhados eram patamares
O nível das águas invadindo lares
A água, essencial à vida,
Tirando a vida de familiares
 
Solidariedade é comum ao brasileiro
Quando algo assim acontece
O que de fato minha alma adoece
É ver que o poder verdadeiro
E sim, eu falo de recurso, de dinheiro
Está com quem pouco se oferece
Fala-se muito em oração e prece
São bem-vindas também
Mas, se antes desse ‘em nome do pai’, desse amém
Humanidade houvesse
As previsões, nada santificadas
Cartas descritas e marcadas
Deveriam ter sido lidas e aplicadas
Seriam vidas protegidas
Mortes não privatizadas
 
As mortes vêm em PPPs
Parcerias público-privadas
Mortos, tanto faz, tanto fez
A culpa é somente das águas
Sim, ela é invasora
Só não é sem aviso
Nem um caso avulso
Ela nos avilta
E, nesse caso, sem volta
A revolta mesmo
É que não será a última
O último desastre
Sem vazão
Morre-se na correnteza
E por mais forte que seja a corrente
De solidariedade, de arrecadação
A razão não se represa
Ela transborda
Nos interesses da empresa
E a família presa
Espera resgate
Jet-skis, helicópteros, qualquer coisa que salve
Que os céus os salve
Que a chuva pare
Que por todos nós seja entendido
Que o céu não está dando castigo
A tempestade não é covarde
Não vem à toa
O temporal não é vingativo
A dor e o pranto que nos ressoa
Tem legendas e cifrões
Ao mesmo tempo, violentos e passivos

sexta-feira, fevereiro 23, 2024

Meu/ Teu Espelho

Não gosto do que vejo
Meu rosto no espelho
O corpo traz um peso
O rosto também confirma
Que não desejo
 
O olhar tem certo desespero
Corre, visando dinheiro
Faz-se cego para vê-lo
Cego para além do vidro
No papel de espelho
 
A passada é ofegante
Contínua, frustrante
Repetitiva, agoniante
Silenciosa de boca
De alma gritante
 
Teu espelho te agrada o bastante?
Tua imagem, teu semblante
Tua dor sufocante
Tem que esperar
Falar nem sempre é relevante
 
No meu espelho, fico triste em dizer
A imagem que está me obriga ver
Uma versão que eu não queria ter
Uma estrada cansada, esgotada
Dos passos em vão, não do ser
 
Seja o teu ou o meu espelho, amissão é proteger
Da trinca, do azar que a maldição pode abater
Espelhos refletem sonhos que deixamos se esconder
Você, no teu espelho, tua alma te lembra
Reflexo é o que se perde, o que que morreu
E reflexão é o que ousou sobreviver

quinta-feira, fevereiro 22, 2024

Sentido do Amor

Amor tem que fazer sentido
Sem fazer sentido
Essa frase parece que não faz o menor sentido, mas faz
Faz muito sentido
 
Qual o sentido do amor?
Estamos falando de qual perspectiva
O sentido da mão que ele vai?
Sentido bairro, sentido centro...
Ou o sentido é no sentido de razão pelo qual ele existe?
 
Amor é pra sentir, pra que o outro sinta
E o sentido seja de mão dupla
Na mesma quantidade de faixas de subida ou descida da serra
Claro, pode haver operações pontuais,
de uma faixa estar carregada e a outra cede
Conforme a sazonalidade
 
Amor é sentido. Você sente? Por quem? Pelo quê?
Você sente que sentem por você?
Amor, senta comigo, me conta o que sente
Sinta minha preocupação pra que você se sinta bem comigo
Centenas, milhares, se preciso,
quero que sentemos à mesa pra realinhar os sentidos
 
Amor é carro potente na estrada, muita velocidade, pé no talo
Mal vê placas e, numa dessas, desvios podem causar retornos bem complexos
Amor tem trilha, tem estrada, chão de paralelepípedo e lugares pouco habitados e bem remotos, chão de terra. Nesse caso, não adianta a velocidade ou quantidade de cavalos do motor.
Amor é jeito, é saber pilotar, é dividir a direção
 
Se a rota está certa, e eu sinto que está, basta seguirmos nosso GPS chamado de coração e na nossa frequência, no norro ritmo, tudo, acredite, vai continuar fazendo sentido

Sem Nem Citá-lo

Não vou ter a pretensão de ser inovador
De reinventar falar dele
Será só mais um poema, talvez sem valor
Servirá só pra que eu desanuvie o peito
Já falaram, já cantaram, nada novo pra se expor
 
De novo, novo mesmo, só a quentura, o fervor
De quando ele aparece de repente
Aí a gente nem sabe se seu codinome é beija-flor
Como segredos daquela canção de antigamente
 
É assim que a linha flui ao escritor
Sem nem entender se vem de longe
Pra quem ouve no ar um som se compor
Pra quem prepara um prato
Sem tempero pronto pra dar mais sabor
 
Ele é força, às vezes de vontade, às vezes, motor
Mas, é também jangada, um barco à vela
Ao soprar do vento, êh vento que nem sempre sopra a favor
O vento seca desde tinta na tela
Até a lágrima de um dissabor
 
Carregam nas tintas, fazem combinar toda cor
Ele se sustenta na infinitude
Tim Maia pedia motivos pra dor
Chico tem uma pedra no peito pela mentira
Jobim e Vinícius, como cenário, o Redentor
 
Agora, me diz, adianta apelo ao Senhor?
Apelo pra nunca mais ou pra sempre?
Imagina responder isso, vamos supor
Nunca mais ou pra sempre, vazio ou presente
Prisioneiro, libertador
 
Há quem tenta não dormir e o sonhador
Que faz questão do risco
Poeta tem que ser o risco e o rabiscado
Senão, nem faz sentido a poesia
Tantos versos sobre ele, sem nem citá-lo
Desculpe, sou só um amador.

terça-feira, setembro 05, 2023

Repara Bem

Repara bem
O quanto a gente se vê na escuridão
Não é preferência
Caberia até uma discussão
Filosófica, experimental
Da aparência

Repara bem
O quanto a gente mal se enxerga
Se olha de verdade
Pensa aí: há quanto tempo nem se observa
Dos seus olhos pra dentro
Sua intimidade

Repara bem
O quanto se vê em reflexos do dia
De passagem
Vitrines, janelas em carros ou lataria
Pode até ter desfoque
Mas é sua imagem

Repara bem
O quanto seu olho mesmo desfoca
Sua visão distorce
Ao ponto que nem filtro retoca
Em nenhum grau se vê
Por mais que a vista se force

Repara bem
Reparei pra escrever tudo isso
Era transparente
Eu só me via naquele vidro
Pois era noite
Eu me via em minha frente

De dia,
Não adiantaria eu reparar
Veria o jardim e o que tinha além
Seria bom também de olhar
Mas não veria meus passos
Nem se eu reparasse bem

Ter um "P" de Pelé




Sua pele preta,
sua camisa branca,
Tinham plena sintonia
Com sua companheira
A cada dança
E ela merecia

O escudo no peito
Nas mesmas cores
Fez seu palco uma Vila
Fez tudo primeiro
Lances precursores
Que hoje um craque desfila

Ele parou, no Cosmos.
Uma guerra, adversários
Hoje, parou o Edson
O do CPF, o terráqueo
A Pelé sempre foram postos
Adjetivos extraordinários

Justos! E justo no ano em minutos finais
Quase nos 45 do segundo
A TV volta lá pra 58
O preto e branco do luto
Ocupam todos canais
Emocionam o mundo

Mundo que ele levantou
De azul como a santa
Na mão, nos pés, na cabeça
Camisa amarela ou branca
Em saltos comemorou
Essa imagem que não cansa

Quem cansa de ver gol?
Ainda mais quando é Pelé
Até nos gols que não fez
Sem tocar na bola, olé
Da trave, um vento soprou
Uruguaio apelou pra fé

Teve aquele do círculo central
O Gordon Banks na cabeçada
Todas no México em 70
Pelé eternizou até jogada
Sem grito de gol da geral
De tão magistral
Pelé quem fez a 10 encantada

Entraram mil duzentas e oitenta e duas
Em mil trezentas e sessenta e quatro partidas
Tudo em Pelé é milenar
Mil cento e dezesseis na mesma camisa
Fez a história e cores do Santos, as suas
Fez a histporia do futebol eras distintas

Antes e depois da Majestade
Pelé, adjetivo de referência
Ser o Pelé no que faz
Ser Pelé é a excelência
É transpor a habilidade
Que não se resume à ciência

Compararam os amigos 10
Edson e Diego, Pelé e Maradona
Não era pra haver disputa
Era pra se exaltar a honra
Da bola, que teve o prazer de tocar esses pés
E do céu que os reencontra

Sabe quando se diz que fulano tem um quê?
Que tem algo especial que destoa?
Vamos trocar o Q pelo P? Iria bem nesse caso
P pra perfeito, pra poder, pra pessoa
Se a gente adotasse, aceitasse o tal P
Do Pelé, bastaria o P, fica implícita a coroa. 

sexta-feira, junho 23, 2023

Culpas

Vamos metralhar a petralhada
"Ah, bobagem, figura de linguagem"

80 tiros num carro de família
"Ah, isso é culpa do presidente?"
Ele levou 5 dias pra dizer que foi incidente
E que o Exército era inocente

Veio a pandemia que ele chamou de gripezinha
Pra quem dizia que a família defendia
São quase 700 mil de luto
"Mas, morreu gente em todo mundo"

Sim, só que aqui se recusou vacina
Sabe quantos morreram na China?
Não deu 6 mil; aqui, 100 vezes mais
Mas, a culpa não é dele, não
Coitado, tão capaz

Da gripezinha pra outra 'inha', rachadinha
Mas, na real é tudo 'ão', tudo 'ona'
Um cheque de 89 mil é um checão
E 39 quilos num avião, é besteirinha
Daquela brancona
Sabe aquela farinha que curtia o Maradona?

Você já perdeu alguém?
Seu luto foi mimimi?
Alguém te perguntou: vai ficar chorando até quando?
Tudo bobagem, a gente que fica forçando

Agora, fala aí: já conheceu alguma tribo indígena?
Deve ser uma experiência bacana
Mas, olha, se te oferecerem pra comer carne humana
Talvez não seja de bom grado aceitar
Mesmo que servido com banana
Só acho que com princípios cristãos, não parece combinar

Ah, e quem diria, como chamar de pedofilia
Pintar um clima com uma menina de 14 anos
"Ele tinha outros planos
Averiguar o que acontecia"

Mas, aí o que ele fez?
Acionou a ministra dos Direitos Humanos?
Não, não fez nada, só falou num podcast
Ah, então ele entrou, viu meninas menores venezuelanas
Segundo ele, se prostituindo e não fez nada?
O que faltou pra fazer? Pintar um clima?

Ali no Complexo, só traficante
"Ah, ele só se expressa mal,
Fala sem pensar o que vem na cabeça"
É exatamente isso

Eu não quero pra me representar
Alguém que venha esse tipo de coisa na cabeça
Porque em quem vem esse tipo de coisa na cabeça
Não tem moral, só encontra gente igual
Que o escolhe pra vociferar seu preconceito
Racial, social, sexual, de tudo quanto é jeito
Eu não aceito esse tipo de sujeito
Eu não aceito estar sujeito ao seu normal
Ele não é nem singular, é um zero
Nem esquerdo, nem direito, só um zero
Enquanto nossa força é plural.



Poesias escritas em novembro ou dezembro de 2022